"A vida não seria a mesma sem aquele par,
ou até mesmo, talvez nem vida houvesse"
Quando me dei conta de que
havia saltado, já estava na metade do caminho do chão de um templo. Percebi também
que, após o templo havia mais coisas abaixo dele, era como se eu estivesse em um
templo no céu de um planeta, de repente comecei a cair mais lentamente e em uma
direção mais inclinada, virei a cabeça para traz e aquele estranho par de asas
estava fazendo com que eu planasse no ar e foram me descendo até o chão daquele
templo abandonado sem que eu tivesse algum controle sobre elas. Quando estava
prestes a cair no chão, avistei à minha direita a imagem de um velho e caí; com
alguns arranhões apenas, eu me levantei naquele ambiente novo e com dificuldade
de me mover normalmente, era como se o meu peso tivesse subido consideravelmente
a ponto de me deixar com poucos movimentos. Vi que a maleta estava jogada perto
de uma árvore, com dificuldade eu fui até ela, e quando tentei segurá-la para
poder seguir, o simples gesto de abaixar e puxá-la pra mim foi inútil, estava
muito mais pesada.
Me sentei usando a árvore de
encosto, olhei ao meu redor enquanto examinava o ambiente desconhecido que
tinha um céu acinzentado, uma fruta da árvore caiu em meu colo e, sem fazer desfeita,
eu a comi. Foi questão de segundos para que me sentisse mais leve e todo aquele
ambiente de peso voltasse ao normal. Ao me levantar eu repeti o movimento de me
abaixar para pegar a maleta e senti uma mão em meu ombro, sem hesitar eu me
virei dando alguns passos para traz. Era o velho que eu avistei enquanto caia.
Fiz meu exame rápido de rotina, ele usava um traje medieval composto de camisa
e calças improvisadas com algum tipo de tecido e chinelos de madeira. Sorrindo
pra mim ele disse:
- Você parece mais agradável
que o último.
Sem entender, eu respondi:
- Último o quê?
- Nascido do aço. - ele se
sentou - Sente-se, formalidades ficam para depois, você vai entender ao longo
do tempo o seu propósito, e traga a maleta com você.
Sem retrucar eu peguei a
maleta e me sentei quase caindo para traz com o peso das asas.
- Onde está sua chave? - Ele
me disse.
- Está aqui! - Respondi com
quase certeza de que aquela fosse a chave.
- Abra a maleta. - Disse o velho,
já me mostrando que era um mandão.
- Já sabe o que fazer? - Perguntou
ele.
Eu observei os machados e vi
escrituras nos cabos que, de algum modo, eu entendia, então eu respondi: “Sim!”
No cabo de um dos machados dizia: “Na dúvida, nos finque nas costas”, e no
outro dizia: “Na dúvida, remova-as com nós”; logo entendi a mensagem dada e sem
sentir muita dor eu levantei uma das asas e a cortei com um dos machados,
sobrando apenas um pedaço de osso que voltou para dentro de mim sem que eu participasse
daquilo, repeti a ação com a outra asa e não sobraram cicatrizes.
Quando eu ia pedir explicações,
o velho havia desaparecido e sobrara uma recente escritura na árvore dizendo: “Nascido
do aço, você tem os requisitos para a próxima proteção dos mil anos, tudo lhe será
explicado nos próximos dias, lembre-se: você é meu superior, sou apenas um orientador,
mas posso adiantar que a dualidade que há dentro de você é tão especial quanto
a de qualquer outra encontrada em qualquer outra pessoa. Desça e não viva como
eles, mas sim como seu protetor, é cruel, mas faça isso se conseguir passar no
seu segundo teste: a Hidra, boa sorte.” A árvore pegou fogo diante dos meus
olhos e uma onda gigante vinha em minha direção, guardei os machados na maleta
e reparei em uma pequena escrita na alça da mala que dizia “Senhora das Armas”,
me ergui diante da onda e corri em sua direção quando fechos de uma fumaça
escura apareciam de todos os lados trazendo enormes serpentes de duas cabeças,
mas em todas as serpentes havia uma cabeça morta e isso as deixava quase normais
se não fosse pelo seu tamanho. Ao me aproximar da onda, dei um mergulho em sua direção
que me lançou de volta para traz. Quando tudo estava tomado por água, eu fiquei
sem ar, já consegui imaginar minha imagem: roxo e com os olhos atormentados; a
maleta se abriu diante de mim, saindo de dentro dela uma espécie de saco de
papel que foi em direção ao meu rosto trazendo o ar de volta; com a maleta em
uma mão e podendo respirar, eu nadei para cima quando um enorme fecho de fumaça
me envolveu tirando toda minha visibilidade, eu continuei nadando e
quando a fumaça sumiu, eu estava nadando em volta da maior daquelas serpentes
com ela me cercando, mas ela não me atacava. Quando eu pude chegar à superfície,
a máscara de papel que me dava oxigênio desapareceu e a maleta brilhava.
Na posição em que eu me encontrava,
já sabia que para seguir adiante eu teria que matar a serpente. Subi em um dos
picos que ficou submerso e sabia que eu ia precisar de uma arma para poder
destruir a criatura, que usava um amuleto de pedra em seu pescoço dando à criatura
o titulo de "Hidra". Parado em cima de uma pedra, observei as
pequenas serpentes me cercando e que, mesmo submerso, o templo tinha grandes
partes para fora d'água e, observando os recursos de terreno em minha volta,
não pude conter a afobação e a vontade de sangue quando vi aquela enorme
serpente saindo da água e vindo pra cima de mim num bote certeiro, pulei para a
pedra de traz deixando a maleta cair na mesma pedra em que eu havia pulado. Vi
o pico onde eu estava antes sendo despedaçado e a Hidra com a cabeça dentro da água,
eu desejei naquela hora ter uma espada, mas então eu podia usar os tais machados.
Procurei a maleta para abri-la, mas me deparei com uma espada igual à que eu
havia imaginado usar, e havia serpentes enroladas entre a espada, sem entender,
peguei a espada tomando várias mordidas que poderiam ser evitadas, mas saí
correndo e finquei na cabeça da hidra sem que eu a soltasse, o monstro levantou
sua cabeça da água levando eu e minha arma junto de si. Do alto dela eu pude
ver vários pontos verdes espalhados por seu corpo, segurei em suas escamas,
retirei a espada e a enfiei em um daqueles pontos e a serpente se retorceu de dor,
mas não foi suficiente para que ela morresse, então ela jogou a cabeça para
cima me jogando com a espada para o alto, percebi que ia cair dentro de sua
boca que já estava aberta me esperando, então eu me curvei para baixo deixando
que a espada me guiasse e quando me dei conta, tinha atravessado seu maxilar
inferior e caí novamente na água. O tempo em que ela se paralisava de dor foi o
suficiente para eu voltar à terra e observar que havia uma pequena luz vermelha
dentro de sua boca, era seu ponto fraco. Aguardei. Não esperei muito, ela se
virou pra mim com a boca escancarada para me engolir, decidi não atirar a espada,
quis fincá-la em seu ponto certo, aguardei, a vi vindo em minha direção e
quando vi a luz vermelha bem em minha frente, como planejado, parei meu braço
com a espada à frente, bem diante dela, e, ao acertar, não foi como eu
esperava.